“- Elas riram de mim. Atiraram coisas. Elas sempre riram.”
Você sabe o que aconteceu com Carrie? Baseado no livro homônimo do rei do horror, Stephen King, três filmes foram produzidos nos anos de 1976, 2002 e 2013. Com tantas versões, qual é a melhor adaptação? Qual incorpora melhor o espírito da Carrie? Qual você não deve deixar de assistir?
Eu, Alexandre Nunes (do Vivendo Cada Tempo), Matheus Bacil e Lucas Magalhães nos reunimos para discutir sobre essa coisa que sempre dá o que falar: adaptação. Ficou curioso(a)? Vem com a gente, mas se tem medo de spoilers, fuja e volte quando assistir os filmes e ler o livro.
O começo de tudo: O livro
Na introdução do livro, Stephen King conta como a ideia surgiu, ainda na adolescência, a partir de uma matéria da revista Life sobre eventos telecinéticos em uma casa. Acreditava-se, porém, que acontecia mais frequente em meninas, sobretudo na puberdade das mesmas, onde o sentido fica mais aguçado nessa etapa da vida. Também cita duas meninas conhecidas, ambas morreram jovens demais, mas que seus fantasmas serviram de inspiração para escrever a história que tinha em mente – uma menina com poderes telecinéticos -, a de Carrie White. O romance (que de amor não tem nada, muito pelo contrário) foi publicado inicialmente em 1974 e está até hoje nas sessões de vendas em todas as livrarias.
Carrie é caracterizada – e muito bem caracterizada, por sinal – como uma menina insignificante, ninguém se importa com ela. Gorda, cheia de espinhas, típico papel de bode expiratório de todos. King soube muito bem descrever uma personagem feminina, no auge da adolescência, com uma evolução psicológica, digamos, da toda nervosa e insegura Carrie-que-não-sabia-que-estava-menstruada até a confiante, vaidosa, delicada – mesmo que por um momento apenas – e segura de si mesma Carrie-esperando-o-parceiro-para-o-baile, passando para a vingativa e fuck off everybody Carrie-destruidora-de-bailes. Papel de mestre, feito com sucesso.
A narrativa é mista; parte é a própria narrativa de “Carrie, a estranha“ e parte são notícias, entrevistas com os sobreviventes, relatos, pesquisas, suposições, tudo retirado de “livros que foram publicados” depois que a história terminou.
O livro é divido em três partes. O desfecho é típico do rei: muito sangue, explosões, mortes e destruição para todo lado. A nova edição publicada pela Suma de Letras tem uma capa fantástica, folhas amareladas e fonte do tamanho ideal. Não é um livro pra deixar ninguém sem dormir à noite, e provavelmente vai deixar o leitor com raiva, principalmente da mãe de Carrie, Margaret. A leitura entretém, mas é só isso. A impressão que tive é que Stephen King quis ser o herói das duas meninas citadas na introdução do livro –e conseguiu. Na verdade, não sei se herói seria a palavra adequada, mas sim vingador.
1976: O original
Seguindo o plot do livro, a Carrie de 1976 é uma garota bastante recatada, devido a criação que teve pela mãe, Margaret. Ela cresceu lendo a bíblia e fazendo preces. Vivia isolada e, por isso, não conseguia fazer amigos. Na escola era um motivo de piada, principalmente ao achar que estava morrendo ao menstruar pela primeira vez. Sendo esta, uma das cenas mais famosas do filme.
Bastante condizente à época, Carrie era oprimida por ser diferente e isso a tornou submissa, sem coragem de enfrentar aqueles que abusavam dela. Ela de fato amava a mãe ou a temia? Seu olhar assustado, sem conseguir encarar ninguém por muito tempo é uma constante. Até a cena final, em que ela se cansa de tudo isso.
Vale ressaltar, que nesta versão, Carrie se assusta ao descobrir seus poderes telecinéticos. Tal coisa só pode ter a ver com o demônio. Ela brinca um pouco levitando livros, mas continua sem compreender do que é capaz. Então, ao ser humilhada em público, em seu único momento de glória, ela sente ÓDIO. Movida por esse sentimento, Carrie permite que seus poderes dominem seu corpo e sua mente. Nada mais importa, só a vingança. Todos estavam rindo dela, ou pareciam estar. A garota ficou paranoica, por causa das palavras da mãe?
O filme gera uma dúvida sobre a mãe de Carrie, dando a entender que ela também poderia ter telecinese, mas isto fica para o telespectador. O que faria sentido, pois desta forma, Margaret estaria reprimindo o que considerava um demônio que passou dela mesma para sua filha.
Dirigido por Brian De Palma, com o roteiro de Lawrence D. Cohen. Carrie tem o elenco composto por Sissy Spacek, Piper Laurie, Amy Irving, William Katt, Nancy Allen e John Travolta.
2002: O remake
A ideia do remake era seguir fielmente o livro. Isso quer dizer, que a linha narrativa é a mesma. Ao contrário de 1976, que tem uma linha do tempo contínua no presente e utiliza recurso de flashback, a de 2002 recorre aos depoimentos dados à polícia e toda a investigação sobre o que aconteceu no baile. Por conta dele ser bem mais explicativo, sem todos os furos e perguntas deixadas no ar do primeiro. Ele é mais “completo” nesse sentido, e não nos deixa com um vazio do tipo: “só isso?“.
Sobre a interpretação de Carrie, durante várias partes do filme, parei pra pensar sobre seu comportamento. Me deu a impressão de que Carrie pode não ser apenas telepata, mas também pode possuir uma doença psicológica, como o autismo. Hmmmm, quem sabe? Ou até mesmo uma “síndrome do pânico” causada por todo o sofrimento que sua mãe causou. Quando seu poder está no auge, ela entra numa espécie de transe e fica confusa, sem saber o que está acontecendo.
Por falar em poder, a telecinese é bastante explorada nesta versão. Ela descobre seus poderes, e os encara, a princípio, como um “milagre” e vai aprendendo a desenvolve-los no desenrolar da história.
Produzido especialmente para a TV, o filme é bastante longo. Assistindo esse remake fiquei pensando: “Nossa, funcionaria como série“. Se desenvolvessem mais, daria um bom show, de pelo menos umas duas temporadas. Ou até mesmo como uma minissérie, e em algumas partes do filme parecia ser uma.
Este filme está disponível na Netflix e irá ser exibido, hoje, às 23h no SBT.
2013: A releitura
Ao contrário do filme anterior, que procurava ser mais fiel ao livro. Esta versão de Carrie apresenta uma releitura do best-seller de Stephen King, em que a história se passa nos dias atuais. Talvez, por esse motivo, temos uma personagem mais forte. Carrie continua sendo uma garota insegura, estranha e sem amigos, mas sua relação com a mãe mudou consideravelmente. Por ter sido criada, praticamente isolada da sociedade, estudando a bíblia com Margaret, é de se esperar que ela seja profundamente religiosa também. Mas ela contesta, não aceita tudo como verdade universal e tem a mente aberta para pesquisar em livros e na internet sobre os seus poderes telecinéticos. Coisa do demônio? Não, genética. Por não temer seus poderes, ela treina para ver até onde pode ir, e se diverte fazendo isso. Portanto, na cena do baile, vemos coisas que as outras Carrie não fizeram, porque não treinaram. Se seu poder telecinético desenvolveu para outra coisa, é possível.
O filme é fiel, e logo no início dá pra perceber que rolou uma inspiração na versão de 1976, mas ele dá margem a novas interpretações e teorias.
Margaret também herdou os poderes telecinéticos e se cortava para controlá-lo? Sim, e isso fica claro quando ela diz que o demônio sempre retornará, e por isso ela deve sempre matá-lo. A autoflagelação é vista tanto em Carrie quanto em sua mãe. Para Carrie, uma forma de punição, um preço a ser pago pelo pecado, para Margaret, uma forma de controlar o mal que guarda dentro de si.
Apesar de tudo, mãe e filha realmente se amam? Carrie tinha consciência de tudo o que estava fazendo? Sim, e creio que esse amor, apesar de conturbado e de compreensão não muito fácil, foi o que trouxe aos olhos de Chloë uma pureza e uma bondade que não estava tão presente nos assustados olhos de Sissy.
Aí, entro com uma teoria. A Carrie de 1976 vivia em uma sociedade repressora, que inferiorizava a mulher e oprimia quem era diferente, e a Carrie de Chloe nasceu numa era de luta por igualdade de campanhas antibullying. Isso muda alguma coisa? Não, ela foi humilhada e marginalizada da mesma forma, porém, tinha consciência de que merecia ser tratada como igual. A Carrie de 2013 sabia quem era.
Vemos isso com mais clareza no momento em que ela seleciona quem queria matar. Ela estava consciente, e não descontrolada como as das duas outras versões. Ela queria vingança e perseguiria seu alvo.
Carrie – A Estranha é dirigido por Kimberly Peirce a partir do roteiro de Roberto Aguirre-Sacasa e está em exibição nos cinemas.
Conclusão
Cada versão tem sua particularidade e cada um de nós tem a sua preferida. Gostaríamos de destacar que as interpretações de todas as atrizes retratam bem a personalidade de Carrie descrita no livro que deu origem aos filmes. Sentimos pena, raiva e achamos a vingança da garota a coisa mais justa do mundo. Sem sair da ficção, é claro. Pois só uma obra tão grandiosa como esta faz com que o espectador apoie um assassinato em massa bastante cruel. Será que o rei mexeu com nosso psicológico? Só sabemos que amamos.
Vocês sabiam que existe uma sequência do primeiro filme? Lançado em 1976? Pois é, nem nós sabíamos.
Há vinte e três anos a telecinética Carrie White foi humilhada em um baile no seu colégio. Carrie foi tomada de um ódio tão intenso que imaginou que todos debochavam dela, quando na verdade apenas alguns a estavam humilhando. Usando seus poderes paranormais, ela fechou as portas e incendiou o ginásio, matando todos, com exceção de Sue Snell. Em 1999, a história começa a se repetir, quando Rachel Lang, a meia-irmã de Carrie que também é telecinética e menosprezada por seus colegas, está prestes a ir em um baile sem que ninguém tenha ideia de seus poderes. Entretanto, Sue Snell, que agora é conselheira da escola, desconfia que Rachel tem o mesmo dom de Carrie e teme que uma tragédia similar possa acontecer, tentando inutilmente advertir Rachel sobre isto. Paralelamente, alguns alunos do colégio planejam para a noite do baile algo que Rachel nunca vai esquecer, sem imaginar que eles vão morrer antes que esta mesma noite termine.
Apesar de achar o plot desta sequência, na verdade um remake disfarçado, iremos aceitar o desafio de assistir, porque cá entre nós, não parece ser nada bom.
15 Comments
Ana Death
13/12/2013 at 11:53 pmAinda não vi esse filme novo, mas vi todos os outros 3 xD É, eu vi esse Carrie 2 – e ele é ruim mesmo, rs. É altamente trash 😛 Vi numa época em q eu via muita porcaria de filme terror adolescent, rs. Apesar da vontade de ver o filme novo, não vou ver no cinema… vou esperar. E o remake, q achei bem melhor do que o primeiro, imo, era pra ter sido uma minissérie mesmo, por isso que o final fica em aberto xD {Sou a rainha das curiosidades inúreis haha}
Ótimo artigo! :3
/smile
Byzinha
13/12/2013 at 11:55 pmNecessito ir assistir, mas kd tempo?
Ana Beatriz
14/12/2013 at 12:41 amEu já assisti o primeiro, é tipo aquele filme clássico mesmo. Quando se assiste em 2013 a gente acha muita coisa dali engraçada, mas segundo minha mãe na época ele deixou todo mundo com medo e era super terror. Eu não senti medo, mas dá uma agonia em muitas cenas pela personagem e pela própria mãe também. Já com o novo, eu tô bem ansiosa pra assistir, apesar de ter visto umas críticas ruins, me empolguei bastante.
Polie
14/12/2013 at 12:53 amAee! Ficou demais o post. Ainda não li o livro, mas agora me deu mais vontade. :3
Verei o filme novo também.
\o
Matheus B.
14/12/2013 at 1:44 amo post ficou lindo! *o* HUASSAUDASHUASDHASD
adorei ficar a semana toda discutindo com vocês sobre Carrie, e foi muito bom! Principalmente as teorias malucas que surgiram no meio, e dúvidas mútuas.. tudo foi massa <3
Não vejo a hora de assistir ao remake de 2013.
Temos que fazer outro especial de novo, qualquer hora dessas /O/
Amanda Faustino
14/12/2013 at 9:57 pmEu não gosto do filme, e nem mesmo tenho vontade de ler o livro. Mas esse post me convenceu a tentar assistir a releitura. Pode ser melhor do que o anterior…
Beijos,
Mands – Outbreaks.
Marcelle
14/12/2013 at 11:45 pmEu queria mesmo saber como ela era descrita no livro. Então, nenhum filme foi fiel nisso, se ela era gorda e cheia de espinhas… pior ainda, a única que não é linda é a de 2002. Por falar nisso, eles queriam mesmo fazer uma série do filme de 2002, pelo que eu li é por isso que a Carrie não morreu (ela morre no livro, né?) pq iam continuar, por isso aquela história de ir pra Flórida e tal.
E pq vc acha que a sequência do primeiro não parece nada boa? é a mesma coisa que os outros ué kk
thanny
14/12/2013 at 11:54 pmEles mantiveram a personalidade dela, mas como dissemos, isso dá margem à várias teorias sobre a personagem. No final das contas, nenhum filme pega um ator 100% igual ao descrito no livro.
Exato, ela morre no livro, mas no filme de 2002 ela sairia para fazer investigações com a Sue.
HAHAHAHAHA justamente por ser a mesma coisa, se temos a mesma história não é uma “sequência” e sim uma cópia do que já foi feito. Aposto que King não gostou nada disso.
Leeh
05/01/2014 at 6:41 pmOie, meninos 🙂
Eu tenho o livro de Carrie aqui, e fiquei com muita vontade de ver o filme que foi lançado ano passado. Aliás, com essa coluna de vocês, esse é, de alguma maneira, o que mais me interessou ainda foi esse.
Mas depois de ler o livro, pretendo assistir todos e, como vocês, ver qual será meu preferido! 😛
Gostei muito da postagem, mesmo!
Beijos,
Leeh – hangoverat16
Hangover at 16
09/01/2014 at 9:28 pmSinceramente, eu prefiro bem mais a primeira versão. Mas, tenho um amigo que leu o livro, e falou que esse último é o que ficou mais próximo ao livro, então…
Gostei muito do post, apontou bem os detalhes que diferenciam uma versão pra outra!
xx Carol
http://hangoverat16.blogspot.com.br/
euller
17/05/2014 at 5:24 pmTommy morre no livro ou no filme, carrie morre no livro? e sue ela fica louca?
Estou confuso.
Byzinha
18/05/2014 at 12:07 pmAmbos, ambos e não.
euller
18/05/2014 at 3:20 pmObrigado, mas no filme de 2002 a carrie fica viva .
Erica Lima
20/01/2015 at 11:51 amNo filme de 2002 tinha esquecido que tinha estas entrevistas! Falaram tão mal desse filme de 2013 que nem fiz questão de assistir. Mas como todos os livros, os dois filmes chegam um pouco longe da história /cry
José
05/12/2017 at 8:09 pmOs efeitos da última versão são bem melhores. Mas parece mesmo um filme pra adolescentes. O primeiro era intenso, com cenas fortes do inicio ao fim. A música, os gritos…insuperáveis. Personagens mais complexos…Carrie não era só uma mocinha, era muito perturbada, combinava com um filme de terror. Não acho que um filme pra ser bom tenha que explicar os personagens. Pelo contrário. E o que era aquela estatuazinha no armário da Carrie?