Eu tive raiva, eu esperneei, eu joguei o livro na parede. Acho que isso pode descrever o que senti ao ler Serena, descrita como uma das obras mais geniais de Ian McEwan, autor de Reparação, o livro que deu origem ao sucesso de Joe Wright, Desejo e Reparação, em parceria com sua eterna musa Keira Knightley e James McAvoy.

Serena aparece, primeiramente, como aquele talvez nem tão simples romance de espionagem, mas já nas primeiras páginas essa sua ideia se quebra, é estilhaçada. Pelo que vi, é tudo intimista demais, tão pessoal que simplesmente não pode ter aquela característica fria dos costumeiros suspenses. Um dos fatores que contribuíram para essa minha impressão foi a personagem principal, Serena Frome. A narração já é em 1ª pessoa e então somos apresentados ao inteiro caminho pelo qual Serena passou, sendo a filha de um pastor anglicano, tendo vivido uma infância e adolescência muito tradicional e regada do início ao fim por livros e mais livros, até que temos a fase adulta e seus desejos reprimidos. Serena queria cursar Letras, sua mãe queria que estudasse Matemática em Cambridge e, neste cabo de guerra, a segunda venceu. Ao contrário do que você pode pensar, na faculdade Serena não parou de devorar livros como uma verdadeira gulosa, mas foi ai que construiu seus primeiros ideais. E não por si mesma.
Desde o início, é possível perceber que a personagem é extremamente manipulada, desde suas escolhas até aquilo que ela pensa. Serena realmente se molda a partir da vontade daqueles que a rodeiam, dos livros que lê, mas eu não posso culpá-la. O enredo se passa justamente na Guerra Fria, na década de 70, uma época perturbada, confusa e, aos olhos de tantos, sem futuro ou esperança. Havia sempre aquela pergunta rodeando a cabeça da maioria desse globo: “quando será que EUA e URSS destruirão este mundo?” e em quem acreditar no meio de toda essa conjuntura? Bem, Serena Frome acreditou em livros que depreciavam o comunismo, em pessoas que puxavam-na para a direita e nos conhecimentos que adquiriu ao ser treinada para o MI5 por Tony Canning.
Ela, deixando que conduzissem sua vida, acabou tendo como sua primeira tarefa no MI5 o contato com um escritor chamado Tom Healy. E então há a intensificação do que mais amei nesta obra de McEwan. Apesar de ser o primeiro livro do autor que leio, o fator metalinguístico de sua narração é encantador e visceral. Ele coloca você, leitor ou escritor, cara a cara com os efeitos de um livro, com o que você espera dele, com o que você sente ao devorar palavras e palavras postas ali como uma prévia da mais perfeita harmonia dilacerada. Ian McEwan sufoca, asfixia suas ideias e sua voz e te coloca espantado, íntimo de corações autores e leitores que, assim como Serena, são personagens em suas próprias histórias, manipulados por escritores diversos e no mínimo assassinos.
Estou fazendo, aqui, uma indireta a George R. R. Martin.
No mais, só para reclamar um pouquinho antes de mandar você comprar esse livro agora e ler bem rapidinho, alerto que a leitura pode ser cansativa. Os parágrafos são enormes e você pode se confundir facilmente, tendo que voltar lá atrás para pegar a ideia do trecho. Por exemplo, eu demorei meia hora pra entender que a Serena estava tendo um caso com o Tony e tive que voltar umas duas páginas para entender o negócio. E demorei dois meses para acabar o livro, mas isso foi culpa da preguiça mesmo. Mas, não, isso não é nada que prejudique a genialidade do enredo ou deprecie o maléfico senhor Ian McEwan.
informações
Título: Serena (Sweet Tooth)
Autor: Ian McEwan
Tradução: Caetano Waldrigues Galindo
Número de Páginas: 384
Edição: 1ª – 2012
Editora: Companhia das Letras
Preço: R$39,00
Classificação:
6 Comments
Gustavo Faria Firmiano
22/11/2012 at 4:11 pmOi Geovana.
Bem legal sua análise do livro, que já foi recomendado por muita gente que acompanho, inclusive do próprio meio publicitário que trabalho. Com mais essa recomendação, provavelmente vou colocar Serena na minha Wish List e ler bem rápido, já que também não conheço nenhuma outra obra de Ian McEwan.
Valeu e continue postando.
Bjos
Geo
23/11/2012 at 2:37 pmObrigada, Gustavo! Então siga tais recomendações. Garanto que não irá se desapontar! Yay!! /cute
Deborah
22/11/2012 at 6:04 pmEu já tinha visto trocentas indicações desse livro por ai, e nunca dei valor. Essa inclusive foi a unica que eu realmente li. Você acredita se eu disser que assim que eu bati o olho na capa pela primeira vez eu achei que tinha algo a ver com gossip girl??????? Só depois de muito tempo eu notei o nome do autor…
Me arrependendo bastante agora, devia ter lido ele quando tive a chance, mas enfim, boa resenha, me convenceu. Vou tentar encaixa-lo nas minhas leituras.
Bjão.
Geo
23/11/2012 at 2:38 pmNossa! Fico feliz em saber que eu te convenci a ler esse livro, poxa! Confesso que a capa também me deixou com o pé atrás, não sei, digamos que ficou rosinha demais (??) JHAUJAUSJJAK Muito obrigada, leia mesmo e, se possível, me diga o que achou!
Byzinha
23/11/2012 at 1:28 pmVergonha de mim quando leio as resenhas da Jovana.
Geo
23/11/2012 at 2:36 pmPfvr, lixa///