Esse artigo é uma tradução do BuzzFeed. Você pode conferir o texto original AQUI.
A reação de praticamente todo mundo com o anúncio das indicações da Academia, além dos próprios indicados – Julianne Moore estava tão animada que “mal conseguia respirar” – foi que eles não tinham visto tantas pessoas brancas no mesmo lugar desde a última vez que o Counting Crows tocou no Hollywood Bowl.
A maior parte da consternação parece vir do fato de que Selma está ausente de todas as grandes categorias exceto Melhor Filme (o que, é claro, não é pouca coisa). E mesmo se atribuirmos a omissão de Selma da corrida do Oscar a problemas logísticos ao invés de puro racismo – a Paramount foi notoriamente devagar ao enviar cópias do longa para os votantes da Academia, e escolheu não as enviar para membros de outras ligas (DGA, WGA, SAG, etc.) – o problema de diversidade da Academia não é apenas com o número de indicações de um filme estrelado e feito por pessoas de cor.
O problema é sobre o quão raro é ver pessoas de cor escaladas em grandes papéis que não são próprios para pessoas de cor. (E, às vezes, como no abominável Êxodo: Deuses e Reis, de Ridley Scott, eles nem são escalados. Apesar do que Rupert Murdoch diz, a maioria dos egípcios não se parece com Christian Bale e Joel Edgerton.)
A “esnobada” realmente chocante é que de todas as películas não baseadas em histórias reais indicadas para Melhor Filme, apenas um, O Grande Hotel Budapeste – feito por Wes Anderson, cineasta que é (de forma injusta) criticado por ser a personificação filosófica de “Coisas que Gente Branca Gosta” – tem um ator de cor interpretando um papel importante: Tony Revelori, descendente de guatemaltecos, como Zero, o garoto do lobby. Existe motivo pra que todos em Caminhos da Floresta sejam brancos? Ou em Whiplash, um filme sobre músicos de jazz? Ou Boyhood, ou Birdman? Ou, voltando alguns anos, Ela, Gravidade, ou A Hora Mais Escura? Não existe.
Todos esses filmes são poderosos, possuem performances incríveis e apelo universal. Mas seu elenco, sua face pública, não. O problema não é só as histórias que contamos; é também sobre quem é considerado qualificado para contá-las. E isso não se aplica apenas a “iscas de Oscar”. Eu só não quero ver talentosos atores de cor interpretando líderes de direitos civis e oprimidos porém nobres escravos.
Eu quero ver Lupita Nyong’o como uma planejadora de casamentos azarada no amor em uma comédia romântica boba. Quero ver David Oyelowo correr contra o relógio para salvar sua mulher e filho em um thriller de ação caro; quero ver Chiwetel Ejiofor dando seu melhor como um solteirão em um filme da Nancy Meyers (O Amor Não Tira Férias). Quero ver Idris Elba como a porra do James Bond de uma vez ao invés de só ouvir sobre o quão maravilhoso seria Idris Elba como James Bond. Quero que atores de cor tenham a mesma liberdade de fazer boas e más escolhas e filmes desafiantes e filmes pipoca estúpidos em troca de um bom salário, assim como qualquer outro grande artista e diretor em Hollywood.
Dito isso: existe uma coisa que todos os atores e diretores e roteiristas indicados esse ano têm em comum além de sua “branquitude” (e, no caso dos diretores e roteiristas, seus pênis). Todos eles trabalharam de forma brilhante em filmes brilhantes. Benedict Cumberbatch não tem culpa. Repito, nada disso é culpa de Benedict Cumberbatch.
E, é claro, não importa quem você é, é incrivelmente difícil para qualquer pessoa fazer um filme, e na hora de contratar atores e diretores, a questão que a maioria dos cineastas acabam se perguntando não é “quem pode ilustrar melhor meu comprometimento com a inclusão e multiculturalismo?” e sim “quem caralhos pode fazer esse filme acontecer?” (ou, melhor “quem pode fazer esse filme acontecer com a melhor chance que ele realmente faça dinheiro?).
Mas imagine só se todos os envolvidos com filmes – aqueles que os fazem e aqueles que os amam – se deixassem escolher candidatos da maior piscina possível. Talvez até seja bom para os negócios. Porque, no fim das contas, em Hollywood, verde é a única cor que importa.
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