Literatura

O Menino dos Fantoches de Varsóvia, de Eva Weaver

Leio os livros antes mesmo de os abrir – encaro suas capas como parte essencial da narrativa, um prelúdio, fazendo a função uma “pré-sinopse”, para o leitor. E olhando a capa de “O Menino dos Fantoches de Varsóvia” eu entendi claramente a temática da história, sem precisar de muitas palavras; cores e poucos elementos me transportaram para a Europa sombria, porém vista pelos olhos de uma criança, na Segunda Guerra Mundial. E não minto ao dizer que, ao olhar pela primeira vez, não pude deixar de lembrar de “O Menino do Pijama Listrado”, de John Boyne – tanto pela semelhança do título, da estética da capa e, logo em seguida, por causa da temática.

menino

Outro aspecto que eu prezo em uma leitura é que se nas primeiras vinte ou trinta páginas, eu não tiver sido capturada pelas letras e narrativa, isso dificilmente vai acontecer com o passar do tempo. No caso do livro de Eva Weaver, fui arrebatada pela primeira frase. Logo, pensei: “Essa moça deve saber continuar uma história sobre o Nazismo de forma convincente!”

“Os alemães haviam desenvolvido um passatempo bastante popular: entrar no gueto em suas horas de folga e tirar fotografias para seus álbuns particulares, como retratos durante um passeio por um país estrangeiro. (…) agora havia equipes de filmagem inteiras visitando o gueto, preparando cenários que retratassem a vida gloriosa dos judeus – mais uma mentira suja para enganar o resto do mundo.” (O Menino dos Fantoches de Varsóvia, p. 112)

Não me arrependi. Pelo o contrário; ao final da leitura, queria mais e mais histórias sobre Mika, Max, Mara, Varsóvia, Alemanha e Sibéria. Queria mais, mas me contentei com as emoções que a autora transmitiu por meio de uma narrativa encantadora, fluida e marcante, com toques e requintes dos horrores que só uma história na Guerra pode proporcionar ao leitor.

Sobre a história do livro, eu não gostaria de limitá-la e dizer que é sobre um garoto judeu em Varsóvia na época em que o exército alemão invadiu a Polônia – mas bem, em linhas gerais é realmente isso. Mas, para mim, isso soa clichê demais e a história desse livro vai além dos lugares-comum. Eva consegue mostrar os dois lados da moeda – de Max, o soldado alemão, “feito” para massacrar judeus, mas que vê em Mika a figura do filho que deixou em casa; e de Mika, representando o povo judeu e sua luta incansável durante os anos de guerra.

A grande surpresa do livro fica por conta da sua segunda parte, narrada pelo soldado Max. Você não apenas torce pelo final feliz do nazista, como também passa a se relacionar com seus sentimentos. Não cheguei a desaprovar o destino do personagem, mas me solidarizei com seu sofrimento pós-Guerra.

Se há pontos negativos no livro, não consegui encontrar ou não me saltaram aos olhos. Porém, senti que a tradução poderia ter trabalhado as frases em alemão e traduzido no rodapé do livro, pois fiquei perdida em algumas passagens.

A escritora alemã conseguiu transmitir com a ternura e rispidez necessárias, nem exagerando, nem suprimindo, uma história marcada por sangue e desumanização. Os fantoches de Varsóvia fazem você pensar e enxergar os personagens de uma história real como seres humanos, que no fundo foram todos – soldados nazistas e judeus – apenas brinquedos nas mãos de alguém que sabia como manipular com maestria.

“- Meu caro rapaz, se pessoas como você não existissem, os alemães já teriam vencido, já teriam nos destruído nos lugares que realmente importam. – Ele apontou para seu peito, seu coração. – Eles já teriam entorpecido nossos corações, assassinado nosso espírito, roubado nossas almas. Seus fantoches trazem uma fagulha e uma luz que nos mantêm vivos. Isso é muito precioso, Mika. É tudo o que podemos fazer neste momento.” (O Menino dos Fantoches de Varsóvia, p. 82)

Informações

meninoCortesia da editora.

Título: O menino dos Fantoches de Varsóvia
Autor: Eva Weaver
Tradução: Ivar Panazzolo Júnior
Número de Páginas: 400
Edição: 1ª – 2014
Editora: Novo Conceito (Twitter | Facebook)
Preço: R$34,90
Classificação:  ★★★★★

 

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1 Comment

  • Reply
    Camila Oliveira
    27/05/2014 at 3:36 pm

    Vi esse livro na livraria e também me atraiu pela capa. Anotei o nome e já está na lista de livros para comprar pela Bienal. Sua resenha só me deixou com mais vontade ainda de lê-lo /blink

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