Literatura

Guerra Mundial Z, Max Brooks

 A maioria das pessoas não acredita que alguma coisa possa acontecer até que ela realmente aconteça.

A expressão “é sobre pessoas, não sobre zumbis” na mais pura forma.

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Situado em 10 anos após a chamada “Guerra dos Zumbis”, o livro conta diversas histórias de vários sobreviventes que, de sua própria maneira, foram importantes ou participaram de atos extraordinários naqueles tempos sombrios. Na forma de relatos que foram descartados para uso oficial no relatório da ONU, Max Brooks encarna um pesquisador e explora com brilhantismo as diferentes formas que diferentes pessoas lidam com situações extremas que, aqui, só aconteceu de ser o apocalipse zumbi.

Se tem uma coisa que o autor sabe fazer, esta é tornar uma obra de ficção tão, mas tão realista que a barreira entre os mundos reais e fictícios parece cair. Ele já o fez em Guia de Sobrevivência a Zumbis (inclusive até me assustando quando li) e repete o feito em GMZ: os acontecimentos e reações ali retratados são super possíveis em qualquer situação de grande perigo. Pessoas quebram, outras encontram uma nova força dentro de si, governos caem por terra ou precisam se reinventar, alianças são forjadas ou destruídas… Tudo muda. E esse cuidado em analisar todos esses aspectos, tanto no lado psicológico quanto o político e econômico é um dos pontos fortes da obra. É muito interessante ler sobre essas diferenças radicais em relação ao mundo de hoje, principalmente porque o autor não se importa em explicar tudo nos mínimos detalhes (o que faz sentido, já que no mundo do livro quem está lendo já saberia daquilo tudo. Realismo atacando de novo, aham).

Acha que é assim tão simples? Acha que depois de ser “treinado” por toda sua carreira militar para mirar na massa central você pode de repente se tornar especialista em atirar na cabeça o tempo todo? (…) Acha que depois de ver todas as maravilhas da guerra moderna despencar de bunda com toda sua alta tecnologia, que depois de viver três meses do Grande Pânico e ver tudo o que você achava que era a realidade ser devorado vivo por um inimigo que nem devia existir, acha que assim você ia manter a porra da cabeça fria e ter um dedo estável no gatilho?

Outro destaque é a extensa pesquisa que Max fez, principalmente porque eu sou uma aspirante a autora super preguiçosa e preciso reconhecer quando alguém faz seu trabalho direito. Passando por quase todo o canto do mundo, mergulhando na cultura de diversos lugares e tornando tudo ainda mais plausível, o cara merece palmas até de Sherlock Holmes porque, né, he did his research.

Veja bem, eu acabei pegando esse livro no meio de uma ressaca literária terrível, e não queria ler. E ainda assim gostei demais, não teve jeito. Lia de pouco em pouco e estava tudo bem, visto que as histórias contidas ali são meio que independentes, e algumas delas são de tirar o fôlego a ponto de você mal perceber quantas páginas se passaram. Cada situação consegue ser mais criativa do que a outra, trazendo uma profundidade ainda maior ao negócio todo de sobrevivência. Umas são menos legais do que a maioria, é verdade, e a quantidade de termos técnicos chega a irritar por vezes, MAS não é tão difícil de lidar.

Tanto pra quem curte zumbis, histórias apocalípticas ou de sobrevivência que exploram muito bem seu material, Guerra Mundial Z é um prato cheio. Max Brooks faz um trabalho fantástico em todas as formas, e mostra ser realmente expert em mortos-vivos. Como não amar?

“O medo”, ele costumava dizer, “o medo é a mercadoria mais valiosa do universo.” Isso me afetou. “Ligue a TV!”, dizia ele, “O que está vendo? Gente vendendo seus produtos? Não. Gente vendendo o medo de ter que viver sem os produtos deles.” Mas que merda, ele tinha razão. O medo de envelhecer, o medo da solidão, o medo da pobreza, do fracasso. O medo é a emoção mais fundamental que temos. O medo é primitivo. O medo vende.

informações

Cortesia para resenha.

Título: Guerra Mundial Z
Autor: Max Brooks
Número de Páginas: 368
Edição: 1ª – 2013
Editora: Rocco (Twitter | Facebook)
Preço: R$30,60
Classificação: ★★★★½

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1 Comment

  • Reply
    Tiago
    21/11/2015 at 6:58 pm

    Me auto-flagelo todas as noites pela culpa de ainda não ter visto esse filme. Não curto essa ideia de zumbis, acho bem sem graça, mas por ser “sobre pessoas, não sobre zumbis” muito me atrai. Filmes blockbusters com filosofia são o ápice da evolução cultural humana haha

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