Hoje, dia 30 de Janeiro, é o dia do quadrinho nacional. E tendo em vista que possuímos a algum tempo uma produção muito prolífica, nós temos meio que uma obrigação moral de trazer à tona alguns desses títulos, visto que muitos deles não saem para além do circuito do gênero. E dada a demanda de obras com muita qualidade, a escolha das que estarão neste post foi bastante complicada. Entre ponderações e reflexões, escolhemos para este artigo duas obras, que julgamos além de serem muito boas, refletirem muito bem esse novo cenário e toda sua diversidade . As HQS em questão são: Mayara e Annabelle Vol. 1, de Pablo Casado e Talles Rodrigues, e Meu pai era um homem da montanha, de Bianca Pinheiro e Gregório Bert. Dada as formalidades vamos à ação.
Mayara e Annabelle Vol.1, por Pablo Casado e Talles Rodrigues
Nesse primeiro volume, somos apresentados a um mundo onde a magia e o oculto são elementos que fazem parte da realidade cotidiana da vida moderna. E para além da Policia Militar e Federal, existe um órgão que é incumbido de resolver problemas referentes a esses elementos: a Secretaria de Controle de Atividades Fora do Comum ou SECAF. Fora do comum entende-se como atividades que envolvam “magia” ou casos relacionados aos outros planos e principalmente o inferior, vulgo inferno. Os demônios, conjuradores e afins estão entre nós e para resguardar o equilíbrio em um mundo tão “mágico” foi necessário que se criasse essa secretaria que possui várias “filiais” pelo Brasil todo.
Mayara era uma agente da SECAF-SP mas por ter se envolvido em problemas com alguns figurões da própria secretaria, e após a extensiva defesa de seu chefe Salgado, ao invés de ser expulsa da “corporação” fora transferida para a SECAF do Ceará, como uma espécie de castigo. É ai que entre Annabelle, agente da secretaria e bruxa, e até então única funcionária da repartição. Iniciasse a partir desse encontro as aventuras da ninja Mayara e da bruxa Anabelle, que se dividem entre construir uma relação de amizade e empatia e lutar contra forças do mal e conspirações demoníacas.
Um dos pontos bastante positivos da obra, para além das personagens, é a questão do regionalismo linguístico que é expressado através de gírias tipicamente nordestinas (digo isso, pois reconheço algumas e sou paraibano) e algumas próprias do estado do Ceará. Como também pelos traços com total influência de mangás (quadrinhos japoneses) do Talles Rodrigues e uma paleta de cores que se utiliza muito bem de tons amarelados e alaranjados, dando uma identidade visual muito própria a obra. A estória é basicamente toda rodeada de ação e segredos, parabéns ao Pablo Casado e o Talles Rodrigues por criar uma relação orgânica entre identidade visual e narrativa.
Esse material foi lançado em 2014 de forma independente pela Editora Fictícia. Possui o formato 26 x 17 cm, capa brochura e contém 72 páginas. Edição muito bonita, conteúdo de qualidade. E para a felicidade da geral que acompanha a saga das heróinas, recentemente o Vol. 2 foi lançado e os autores anunciaram que já estão trabalhando no Vol. 3 que sai ainda este ano. Você pode encontrar este material aqui.
Meu pai era um homem da montanha, de Bianca Pinheiro e Gregório Bert
Basicamente a estória dessa Graphic Novel se desenvolve a partir das lembranças da personagem principal à cerca do seu pai e de sua relação com a montanha. Primeiro o pai meio que naturalmente se afastou da família para viver isolado na montanha onde se sentia à vontade. Mesmo com esse afastamento, uma vez por ano, sempre no mesmo dia e período ele vinha pegar sua filha para passarem um tempo junto. A personagem acaba crescendo e se distanciando cada vez mais do seu pai, até um dia não ir com ele passar suas férias na montanha. O pai consequentemente acaba sumindo e se isolando ainda mais no mundo montanhesco, até que certo dia a personagem principal resolve restabelecer contato com seu pai, partindo assim em uma aventura que muitas vezes acaba sendo demasiadamente reflexiva. Mais do que encontrar propriamente seu pai, ela acaba encontrando a si mesma e enxergando seus erros e acertos na relação com seu pai.
A estória é quase que contada em terceira pessoa, mas contendo bastante momentos em que a narrativa é conduzida somente pelas imagens. Sendo este um dos maiores trunfos da obra, que exemplificam as possibilidades narrativas que um “simples quadrinho” pode possuir. Fora a dualidade entre o traço bastante leve da Bianca Pinheiro com todo o jogo de sombras e luz, somado a um roteiro muito bem direcionado que te leva a uma revelação cheia de possibilidades interpretativas e muito “weirdo”. Eu já conhecia o trabalho da Bianca Pinheiro de outros carnavais e a cada obra sua ou em que ela esteja envolvida, me torno mais admirador de suas produções. Como também espero futuras parcerias ente ela e o Gregório Bert. Na verdade, vou procurar alguns outros trabalhos em que ele esteja envolvido, porque o jovem é talentosíssimo.
Essa Graphic Novel foi lançada de forma independente no FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos) que acontece em Belo Horizonte. A obra possui 60 páginas e você pode encontra-la aqui.
Até a próxima pessoal e espero que gostem e comentem à respeito.
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2 Comments
Leila
31/01/2016 at 11:23 amNão conhecia esses quadrinhos nacionais. É legal conhecer um pouco mais. Na minha infância, de nacionais, só lia Turma da Mônica e Chaves.
http://www.meuslivrosesonhos.blogspot.com.br
Um abraço!
Links Radioativos #5 | Abraço Radioativo
08/02/2016 at 10:32 am[…] Quadrinhos nacionais parte 2 […]