Quando nós paramos para pensar na pergunta ali de cima algumas respostas nos vêm à mente: bons personagens são personagens com os quais nós nos identificamos; são personagens que se superam; são personagens para os quais a gente torce. No fim das contas tudo isso se resume a uma coisa: os bons personagens, sejam eles heróis, vilões ou alguma coisa no meio do caminho, são aqueles com quem a gente se importa. E como fazer um leitor se importar com um personagem?
1. Seus personagens têm de ser IDENTIFICÁVEIS
Isso quer dizer que, por mais que eles sejam alienígenas cor-de-rosa que têm superpoderes e sexo não-especificado, seus leitores precisar ler e pensar… Hm, até que esse alienígena não é tão diferente de mim, já passei por isso.
Ser “identificável” vai além de características físicas. Ser identificável significa trazer traços humanos para personagens que nem sempre são humanos. É fazer seus personagens passarem por situações reais, terem falhas e fazerem besteira de vez em quando.
E por falar em falhas…
~~ cuidado com o clichê ~~
É muito comum encontrar protagonistas que são extremamente tímidos, leitores vorazes e com dificuldade de relacionamento. Isso tem sido usado com frequência porque é assim que nós, escritores lindos e maravilhosos, somos. Mais cuidado para não cair na mesmice!
2. Ninguém é perfeito
Eu sei que é tentador criar personagens que são bons em MUITAS coisas, mas no mundo real isso não existe. Se seu personagem é bom em tudo e consegue resolver qualquer situação, ele não corre perigo efetivo na narrativa e por isso o leitor vai perder o interesse. Se seu personagem é extremamente atraente e além de tudo é rico, um gênio, sabe falar cinco línguas, lutar três artes marciais, tocar piano e violino, cantar e ainda é versado nas artes proibidas para menores de dezoito anos, alguma coisa está muito errada com ele, porque isso não é, de forma alguma, acreditável.
É importante que o personagem tenha falhas e/ou defeitos: ele pode ser magricela, pode ser gordinho, pode ter medo de altura, pode não saber ler direito, pode ter dificuldade de se expressar, pode ser extremamente orgulhoso ou desleixado, pode não gostar de tomar banho. Pode ser difícil “diminuir” um personagem que você demorou tanto para criar, mas não pense nisso como diminuir. Pense nisso como torná-lo vulnerável e humano.
Aliás…
~~ cuidado com o clichê ~~
Quando eu digo defeitos, digo defeitos mesmo. Não faça do seu personagem um candidato numa entrevista de emprego que tem como suposto defeito ser perfeccionista. Disfarçar uma qualidade como um defeito é um erro comum que escritores iniciantes cometem. Defeitos de verdade são mais interessantes e fazem mais pelo personagem e pela narrativa.
3. Vulnerabilidades
Todo mundo tem um ponto fraco, não adianta dizer que não. Pontos fracos são ótimos para a caracterização dos personagens, ajudam a estabelecer motivação e a movimentar o enredo. Pontos sensíveis como problemas familiares, bullying, traumas, dificuldade de relacionamento etc. são parte do motor que vão fazer sua história andar.
~~ cuidado com o clichê ~~
Todo mundo está cansado de ver o bad boy incompreendido que tem um passado triste. Embora interessante se bem feito, é preciso tomar cuidado para não tornar esse arquétipo repetitivo.
4. Características únicas
Seu personagem precisa ser único, porque, afinal de contas, cada um de nós também é. Ele tem uma coleção de latinhas no quarto? Ele sempre esfrega a barba quando está pensando? Ela dá uma risadinha nervosa quando mente? Ele tem uma paixão inexplicável por filmes russos do início do século XX?
Tudo isso ajuda seu personagem a se destacar dos demais e, mais que isso, te ajuda a construir a personalidade dele. Se você estabelece que seu protagonista tem uma coleção de miniaturas de RPG, você cria uma imagem e uma expectativa na mente do leitor, que começa a formar um mapa mental sobre quem é essa pessoa sobre quem ele está lendo.
5. Dor e sofrimento
Os leitores podem não querer admitir isso, mas eles gostam de sofrer. De fato, eles adoram sofrer. E nós, escritores, temos um lado secreto masoquista que adora fazer com que os leitores sofram. É um pacto perfeito.
Dessa forma, faça seus personagens sofrerem. Pode parecer cruel, mas é só quando sofre que seu personagem mostra do que é feito, do que ele é capaz. É quando ele está lá embaixo que, se o seu trabalho tiver sido feito direitinho, seus leitores vão se descabelar e vão querer te matar. E se seu leitor quer te matar porque você fez ele sofrer com um personagem, você está no caminho certo.
6. Motivação
Vocês vão cansar de me ouvir falar disso. Cada personagem seu, seja protagonista, coadjuvante ou vilão, precisa de uma motivação. Precisa querer alguma coisa. Na verdade, vou mais longe: cada cena precisa que os personagens envolvidos nela estejam querendo alguma coisa desesperadamente – que pode simplesmente ir chegar ao banheiro o mais rápido possível.
É a motivação dos personagens em cada cena que move a história, e a motivação pode ser qualquer coisa: desde querer casar com o mocinho a salvar o mundo dos alienígenas cor-de-rosa que têm superpoderes e sexo não-especificado.
***
Essa é uma pequena introdução sobre personagens! Cada tópico será abordado separadamente e com mais detalhes e exemplos em posts subsequentes.
Lembrem-se, os cometários estão aí para serem usados: qualquer dúvida, crítica ou sugestão é mais que bem-vinda!
No próximo capítulo (momento Globo Repórter) – Backstory dos personagens: ter ou não ter? Como fazer? Como usar? Vale a pena?
Nos vemos lá!
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1 Comment
paulo
17/05/2017 at 10:38 amMuito Legal ! Alguem já disse que perguntas são como anzóis . Fisgam as pessoas . Ao começar com esta pergunta certamente já fisgou este leitor aqui , muito curioso. Muito bom o blog