Você já reparou nos olhos dela? São assim de cigana, oblíqua e dissimulada…
Dom Casmurro é, sem dúvidas, um dos maiores clássicos da literatura Brasileira. Escrito pelo magnânimo Machado de Assis, no século XIX, contando o romance de Bentinho e Capitu. O texto de Machado é intenso, ambíguo, cheio de graça, tragédia, amor e ódio, e consegue traduzir três idéias abstratas que permeiam por todo o texto: Paixão, Amor e Ciúmes.
Quando a Globo divulgou, em 2008, que faria uma adaptação da série, muitos ficaram com medo de que o livro fosse desconstruído, ou coisa assim. Porém, nada disso aconteceu. De jeito nenhum “Capitu” é uma produção que abre espaço para opiniões dogmáticas como “não presta, não vejo série da Globo”, ou coisas assim. É para se assistir, ler/reler o romance, e aí sim fazer suas devidas críticas.
Dirigida por Luiz Fernando Carvalho, o mesmo diretor de sucessos como “Hoje é dia de Maria” e “A Pedra do Reino”, faz parte de um projeto do diretor que visa levar a literatura brasileira as telas de tevê. Mesmo sendo permeada por traços de assinatura do diretor, como a maquiagem, a atuação bastante puxada para o teatral e o barroco, sem no entanto deixar de lado a narrativa direta e envolvente, a série ficou muito fiel à historia. Teve uma bela produção – chegando aos gastos de 1 milhão por episódio, com esse quê de teatro e narração, sendo ao mesmo tempo antigo e muito moderno, misturando o Rio de Janeiro atual com o do século XIX.
De fato, quando assisti a série, tive a impressão de que o próprio Machado de Assis estava ali contando a história de Bentinho e Capitu. O figurino, os elementos de cena, a trilha sonora, os atores e atrizes, tudo contribuiu para criar o ambiente perfeito, onde os cenários parecem colocar as personagens em páginas de livro ao invés de um estúdio, se movimentando e atuando da forma que Machado escreveu há mais de 100 anos atrás.
Feita em cinco capítulos de 50 minutos, volto a dizer o quanto a série foi fiel. Os primeiros capítulos focam na adolescência de ambos, o início do romance, tudo muito insinuado, limitado, protelante, devido a todas as circunstâncias de separação e de encontros pontuais, que ficavam mais marcados de vontade, retrata exatamente o amor romântico. Já a segunda parte retrata principalmente a imaginação corroída de ciúme que Bentinho, agora Bento Santiago, passa a sentir de sua mulher Capitu e seu melhor amigo Escobar. A fidelidade a história original é tanta, que também na série não temos nunca certeza da infidelidade de Capitu, tal qual o livro.
As atuações são um show a parte. Uma das “marcas” do diretor é sempre escolher atores novos, ainda não tão conhecidos do grande público, para suas personagens principais. E no caso de Capitu, onde só temos Maria Fernanda Cândido de nome conhecido, interpretando Capitu em sua fase adulta, temos um show a parte dos então estreantes Michel Melamed, Cesar Cardadeiro e Letícia Persiles. Capitu tanto em sua fase jovem, quanto adulta, consegue passar a maturidade, a graça, a malicia… Sem falar os olhos, olhos de ressaca que tanto tem destaque no livro, e também estão perfeitos na série.
E não se pode comentar a série Capitu, sem falar da maravilhosa trilha sonora, que se torna um personagem a parte, um elemento que com certeza enriqueceu a produção. Numa mistura de rock com música clássica, a série é surpreendente nesse sentido. Quem imaginaria a combinação de Machado de Assis e punk? Porque sim, ouvimos God Save The Queen, do Sex Pistols! Além de Black Sabbath, Pink Floyd, Janis Joplin, Jimi Hendrix… Nino Rota, em uma citação fantástica a “Poderoso Chefão”, a trilha sonora é com certeza diferenciada.
E para quem assiste, não tem como não ficar marcado na sua memória as cenas de romance entre Bentinho e Capitu, embaladas e intensificadas ao som da maravilhosa “Elephant Gun”, de Beirut. Sem dúvidas um dos pontos altos.
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10 Comments
thanny
04/09/2012 at 6:13 pmResenha de Capitu A+ sambando na cara de quem só fica de mimimi para qualquer coisa que é produzida no Brasil, tudo bem que tem muita coisa ruim, mas generalizar não é a resposta. E OMG, saudades de Beirut <3
Raíssa
04/09/2012 at 6:18 pmQueria muito ter visto essa série na época, nem lembro porque não vi… ._. A produção ficou bonita mesmo, gostei da ideia de ficar algo mais teatral. 🙂
A trilha sonora já me conquistou! *-* Agora fiquei com mais vontade de ver!
bjs bjs!
Byzinha
04/09/2012 at 6:35 pmEu nunca terminei de assistir da mesma forma que nunca terminei de ler o livro, mas lembro que amava de mais a série, principalmente por causa da trilha sonora mesmo. Estou com ela há MESES aqui no computador, só não assistir por pura falta de vergonha na cara kkk
Mas sim, acho que Capitu é ainda melhor que Hoje É Dia de Maria.
Ceile
04/09/2012 at 8:50 pm“Resenha de Capitu A+ sambando na cara de quem só fica de mimimi para qualquer coisa que é produzida no Brasil, tudo bem que tem muita coisa ruim, mas generalizar não é a resposta.” [2] /grin
Eu não assito as séries da Globo pq passam muito tarde e acordo MUITO cedo =[ Uma pena que eu tenha perdido a série…
Vendo as imagens, dá pra perceber o mesmo “clima” teatral de Hoje é Dia de Maria <3
Beijos!
Mareska
04/09/2012 at 11:37 pmNão vi a série toda, só alguns pedaços, mas gostei do pouco que vi. Tudo parecia tão lindo *O*
Lizzie
05/09/2012 at 12:34 amEssa série é MARAVILHOSA. Quando terminei de assistir, queria até escrever uma resenha sobre ela por lá, mas realmente não tinha palavras para descrevê-la como eu queria…estou até pensando em rever. Eu amei o jeito que a produção misturou elementos antigos e atuais nos cenários, ficou muito lindo. A trilha sonora tb é incrível – por causa dela elephant gun foi a minha música de formatura! XDD
E pensar que tem pessoas que dizem que no Brasil não se produz ABSOLUTAMENTE NADA de bom na televisão.
Aione Simões
05/09/2012 at 12:36 amGii, que post perfeito!
Fiquei doida de vontade de ver a série de novo! Ela é maravilhosa e, como você falou, extremamente fiel ao livro (que, aliás, é um dos meus favoritos EVER)!
Impossível não pensar na série e não ouvir Elephant Gun ao fundo! Lembro que chorei como criança na cena das tranças!!
Enfim, adorei!
Eu não sei se super amei a Maria Fernanda Cândido de Capitu, achei que a atriz que interpretou a fase jovem tinha muito mais o ar dela!
Beijão!
Walter
05/09/2012 at 3:16 amMuito linda. Não acompanhei por completa, apenas algumas partes. Mas vale a pena.
jeniffer haddad
05/09/2012 at 1:24 pmJá assisti alguns capitulos, mas nunca cheguei a ver todos. Realmente, a série é linda. Ainda não li o livro, mas pretendo ler ^^
Samyle S.
06/09/2012 at 11:18 amEu amoo essa minissérie! Tanto que eu e minha turma decidiu fazer uma adaptação do romance para um trabalho, uma fotonovela, que eu pretendo postar no meu blog depois.
Adorei aqui, vou seguir*–*
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