Billie é uma personagem de um livro. E, com a frase “— Eu te suplico! — ela berrou, caindo”, ela caiu na vida de Tom Boyd, o escritor da famosa trilogia dos anjos. Como é possível que sua própria personagem esteja em sua casa, e saiba mais sobre a vida dela do que o próprio autor?
Após o termino do namoro com a linda-e-perfeita Aurore Valancourt, uma pianista famosa no mundo inteiro, Boyd se interna na própria tristeza: desiste de escrever o último livro da trilogia, não se encontra mais com os seus dois melhores amigos, e se recusa a sair de casa até para fazer compras.
O problema é que ele não pode se dar ao luxo de abandonar a própria trilogia. Por conta de um contrato e a falência de seu melhor amigo – e agente literário -, ele se encontra sem opção. Mas o que resta a fazer, quando ele não consegue escrever nem mesmo uma palavra?
Durante a história do livro A garota de papel, houve um erro de impressão do segundo livro da trilogia. Com uma frase inacabada, Billie se torna real, e começa a ajudar Tom a se recuperar de tudo: o fim do namoro, a falência, a tentativa de escrever o próximo livro, e tentar reconquistar Aurore, que está com o novo namorado no México.
— Pois tudo que eu queria — continuei — era dividir a vida com você. No fundo, acho que o amor se resume a isto: à vontade de viver as coisas a dois, crescendo com as diferenças do outro.
O nevoeiro começava a se dissipar, e um buraco de céu azul conseguiu perfurar as nuvens.
— O que eu queria — insisti — era construir algo com você. Eu estava pronto para esse compromisso, pronto para viver as provações a seu lado. Não teria sido fácil, nunca é, mas era o que eu queria: aquela rotina que triunfa sobre os obstáculos que pontuam nossa existência.
Quando Tom conta para os amigos que está vendo a personagem de um de seus livros, viva, em sua casa, a primeira reação deles é uma tentativa de interná-lo. Billie o salva, com o carro absurdamente caro do agente de Tom, e eles começam uma viagem até Aurore, no México. Durante a viagem existem vários problemas. Billie o obriga a escrever uma história que a deixe feliz(pois sofreu nos dois primeiros livros inteiros), e os motivos que levaram Tom a escrever são anunciados.
Em paralelo, os livros com erro de impressão começam a ser destruídos. Apenas um livro foge da destruição – e esse livro viaja pelo mundo inteiro, passando pelas mãos de vários leitores que tiveram suas vidas mudadas por Tom. Assim que os primeiros exemplares são destruídos, Billie começa a ficar doente. Tudo aponta que ela existe apenas porque os livros também existem, e apenas um livro perdido a mantém respirando.
Depois de conhecer sua própria personagem, Tom Boyd é um homem mudado. O que importava pra ele, começa a não fazer sentido, e ele se volta para o que o levou a escrever. Com alguns flashbacks, as amizades de Tom são mostradas com detalhe, e é fácil entender o que levou o grupo a manter a amizade.
O foco do livro muda bastante, primeiro entendendo o porque de Billie ter aparecido na vida dele, seguindo com uma tentativa de viagem para conquistar a ex de Tom, e terminando com a doença de Billie e a falta de esperança de que ela sobreviva. Apesar dessa mudança de foco, é muito fácil de devorar as páginas, de ver semelhanças com a Billie ou com a Carole(melhor amiga de Tom), e acreditar que a história e real – afinal de contas, o assunto é um livro que mudou a vida de várias pessoas; Não existe como não existir uma ligação com o livro, não entender o que é ter sua vida mudada por conta de um livro.
— No fundo, o que é um livro, Milo? Meras letras dispostas em certa ordem no papel. Não basta ter colocado o ponto-final em uma narrativa para fazê-la existir. Embora eu tenha em minhas gavetas alguns começos de originais não publicados, eu os considero histórias mortas, já que nunca ninguém pousou os olhos sobre elas. É o leitor que lhes dá vida, compondo imagens que criarão o mundo imaginário no qual se movem os personagens.
Nossa conversa foi interrompida pela bibliotecária, que ofereceu a Milo uma xícara de seu chocolate com especiarias. Meu amigo deu um gole na bebida antes de observar:
— Sempre que um dos seus livros é lançado nas livrarias e começa a ter vida própria, você diz que ele não lhe pertence mais…
— Exato! Pertence ao leitor, que assume as rédeas se apropriando dos personagens e os fazendo viver em sua mente. Às vezes, chega a interpretar determinadas passagens à sua maneira, atribuindo-lhes um sentido que não era o que eu tinha em mente no início, mas isso faz parte do jogo!
Informações
Título: A garota de papel
Autor: Guillaume Musso
Tradução: André Telles
Número de Páginas: 350
Edição: 1ª – 2012
Editora/Selo: Verus Editora
Preço: R$ 35,70
Classificação:
2 Comments
Tay
01/11/2013 at 9:55 pmNossa, essa história é bem diferente e interessante, me interessei.
Beijo!
Vanessa
28/04/2017 at 11:47 amnossa gostei de mais do post bjs