Literatura

1602, Neil Gaiman, Andy Kubert

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A história proposta por Neil Gaiman se passa no ano de 1602 na Inglaterra, que está sob o reinado de Elisabeth I. Um mundo onde a luta por poder é constante, assim como a dimensão mágica é bastante presente (caça as bruxas, acusações de heresia, etc), ou melhor dizendo, um período em que esse tipo de elementos parecem possíveis de acontecer. É nesse mundo que Marvel 1602 se desenvolve. Na verdade, Neil Gaiman teve total liberdade por parte da Marvel, que permitiu que o autor “fizesse o que tivesse vontade”. Ele  simplesmente resolveu dar um “reboot” total, ambientando a trama assim como seus personagens a um tempo medievalesco, onde a magia, monstros inumanos e humanos se degladeiam e lutam pela sobrevivência do mais forte. E pasmem: essa foi a primeira estória escrita por Gaiman para a Marvel.  Mas digamos que a confiança veio por parte do “lattes” do rapaz: ele já era bastante respeitado por causa de  “Sandman” (1988) e já tinha uma boa repercussão na produção literária com ” American Gods” (2001) e Coraline (2002). Digamos que ele tinha “bagagem” para assumir essa responsabilidade.

O período em que a obra fora produzida, o ano de 2002, pode ser entendido como bastante complicado para os americanos, pois em 2001 os EUA teria vivenciado uma das piores tragédias de sua história (11 de Setembro). Gaiman tentou de todas as formas desfocar a narrativa de um tempo mais “contemporâneo”, afastando os heróis de uma “luta contra o terror” que tomara conta da produção cultural desse período, por isso a ênfase em uma abordagem mais fantástica e maravilhosa da narrativa.  Ponto positivo para ele que conseguiu “reinventar” de forma muito “sagaz” um Universo que já tinha uma base muito cristalizada fazendo até com que os fãs mais “xiitas” abraçassem a obra com “amor e afeto”.

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Neil Gaiman quis trazer de volta ao universo dos quadrinhos de herói a dimensão mágica, que para ele sempre foi um elemento crucial nas primeiras estórias de heróis. A partir dessa ideia, o autor consegue aliar fatos históricos a fatos fictícios com uma sincronicidade que garantem uma coesão à narrativa. Mutantes são associados aos hereges e recebem a alcunha de sanguebruxos. A inquisição está presente com toda sua ferocidade perseguindo-os e os queimando, como também escondendo segredos conspiratórios. A magia é vista como heresia e charlatanismo por muitos nobres passando a ser algo ilegal chegando ao ponto do castigo serem penas capitais. Os templários também estão presentes como guardiões de uma arma messiânica que pode evitar o fim do mundo. Tudo isso aliado aos entraves políticos do período entre Inglaterra, Escócia e Irlanda.

Os personagens mais tradicionais do Universo Marvel recebem nomes “medievalizados”: Nicholas Fury (Nick Fury), Carlos Javier (Charles Chavier), Doutor Stephen Strange (Doutor Estranho), Matthew Murdoch (O Demolidor), Peter Parquagh (Peter Parker), David Banner (Bruce Banner), o Grande Inquisidor Henrique (Magneto), Conde Otto Von Doom (Dr. Destino). Sem esquecer obviamente dos personagens históricos que garantem mais peso à trama: Elisabeth I, James VI (Rei da Escócia) e Virginia Dare (a primeira criança nascida na colônia americana). Assim como outras surpresas que não nos cabem citar aqui por questões óbvias de spoiler.

Se não bastasse todo esse clima de intriga e conspiração próprio ao período, o mundo e o Universo como conhecemos correm perigo de destruição, o que levanta algumas questões: Seria isso o fim profético ou existe uma outra possibilidade de explicação?! O fim está próximo e somente um grupo de criaturas fantásticas é capaz de deter este cataclismo, que não só atenta contra o presente mas contra o futuro, visto que o mundo sucumbirá em destruição.

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Neil Gaiman parte para uma abordagem dos heróis que se concentra em seu “reencantamento”. A dimensão mítica aqui é bastante trabalhada e esmiuçada, deixando bastante claro essa ora homenagem as estórias mais clássicas ora tentativa de expandir as abordagens sobre heróis saindo um pouco da lógica racionalista de explicação (acidentes nucleares, a ciência como explicação, inteligências artificiais do mal muhahaha e afins). Outro ponto bastante relevante em “Marvel 1602” é a importância que personagens secundários do panteão Marvel tais como Dr. Estranho tomam na trama, o que acaba sendo uma espécie de apresentação do personagem aos que não o conhecem muito bem. Tudo isso aliado com os traços de Andy Kubert e as capas de Scott Mckowen. Mckowen para as capas dessa minissérie utiliza uma técnica conhecida como Scratchboard: usando facas ou ferramentas de gravura, o artista talhava as imagens em barro chinês e as cobriam a posteriori com nanquim, sendo em seguida tratadas em photoshop para gerar imagens de apenas 4 cores. Nem vou dizer como essas capas são sensacionais.

Essa minissérie foi lançada em 2002 em 8 edições. Aqui no Brasil recentemente foi relançada em uma edição encadernada da Editora Salvat que faz parte da coleção “Coleção oficial de Graphic Novels Marvel”. Custa R$ 34,90, um investimento que vale à pena pois a edição realmente é muito bonita e com uma qualidade muito boa.

capas

informações

Título: 1602
Autor: Neil Gaiman
Desenhos: Andy Kubert
Tradutor: Marcelo Bastos e Hélcio de Carvalho
Número de Páginas:248
Edição: 1ª, 2015
ISBN:978-85-63421-13-5
Editora: Editora Salvat
Preço:34,90
Classificação: ★★★★☆

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